Por Paola Palacios Ríos
Em agosto de 2025, o FAU-LAC foi a Brasília para acorpar e acompanhar o Comitê Nacional Organizador da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. O que será um momento político de enorme significado histórico. Não foi uma visita casual: foi um gesto consciente de acompanhamento direto, um compromisso profundo para caminhar coletivamente. Este encontro, que chamamos de AcorpaFAU, foi carinhoso, amoroso e criado com o Comitê para fortalecer a Proteção, a Segurança Integral e o Cuidado Coletivo.
As metodologias colaborativas e feministas nos acompanharam durante o encontro, pois sabemos que a marcha não é só um ato simbólico, mas uma manifestação com raízes profundas, de poder coletivo em movimento; a marcha é uma memória viva e é também um futuro reivindicado. Esse encontro nos enriqueceu profundamente: nos permitiu conversar, ouvir, sentir e reafirmar que a Marcha das Mulheres Negras é mais do que uma mobilização: é um grito estrutural contra todas as formas de violência que tentam negar a vida das mulheres negras.
Em 2015, a marcha surgiu como uma poderosa resposta política para reivindicar a vida, a dignidade e a autonomia das mulheres negras. Naquele ano, mais de 100.000 mulheres negras de todo o Brasil ocuparam as ruas de Brasília para lutar contra o racismo, a violência, a desigualdade social e de gênero. Desde então, esse movimento se consolidou como uma resposta política contundente, como um ato de dignidade coletiva sob o lema “Contra o racismo, a violência e pelo bem viver”.
Nesse contexto, a presença do FAU-LAC adquire uma dimensão política e estratégica. Nossa iniciativa AcorpaFAU, com a entrega dos Apoios de Resposta Rápida e do nosso Apoio Regional, foi ativada para sustentar essa mobilização que novamente preencherá as ruas de Brasília, não apenas em termos de reflexão e análise, mas também em termos materiais e econômicos. Esta marcha de 2025, nós sabemos, será histórica. Para o Fundo, acompanhar não significa somente assistir: significa tecer coletivamente e cuidadosamente um espaço onde as mulheres negras possam se encontrar, pensar juntas, fortalecer as suas estratégias e afirmar a sua liderança partindo das experiências, memórias e ancestralidades que as sustentam.
Durante a nossa estadia no AcorpaFAU, compartilhamos com mulheres líderes de todos os cantos do Brasil: mulheres da Amazônia, do Nordeste, do Centro-Oeste, do Litoral Sul; mulheres rurais, urbanas, quilombolas, trans, jovens e idosas. Essa diversidade não é acidental: constitui a própria força da marcha. São essas mulheres, organizadas em redes de base, que mantêm viva uma tradição de resistência e luta por justiça racial, social e de gênero.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver incorpora um horizonte político concreto: não se trata somente de denunciar uma injustiça, mas de construir um novo modelo de sociedade. O lema “se uma entra, todas nós entramos” é muito mais do que um slogan; é uma declaração radical de solidariedade interseccional e poder coletivo. Elas não estão apenas exigindo políticas públicas mais justas; elas estão exigindo transformações profundas: reconhecimento pleno, renda digna, saúde sem discriminação, segurança sem violência e representação política real.
Neste momento histórico, tornar essa mobilização sustentável requer mais do que vontade política: requer recursos. Recursos para garantir a participação de milhares de mulheres que viajam de territórios distantes; recursos para apoiar a logística, o cuidado, a comunicação e as estratégias que possibilitam que esse movimento continue crescendo. A mobilização de recursos financeiros é um ato político que contribui para que esse movimento avance com força e autonomia.
Para o FAU-LAC, acompanhar essa marcha é reafirmar o poder das alianças com os movimentos sociais negros e feministas. É afirmar que o nosso compromisso não é momentâneo ou conjuntural, mas é estrutural. Acreditamos na força da solidariedade regional que atravessa fronteiras e na construção de estratégias coletivas que sustentem as lutas dos territórios.
O que estamos renovando em Brasília é um compromisso político e afetivo: caminhar ao lado do movimento de mulheres negras e fortalecer uma aliança que transcende fronteiras com capacidade de transformar a região. Temos certeza de que essa histórica convocatória marcará um antes e um depois, não só no Brasil, mas em toda a América Latina e além. Continuaremos tecendo redes de solidariedade, compartilhando conhecimentos e construindo estratégias para desmantelar as estruturas de dominação e criar, juntas, novos mundos possíveis: mais livres, mais dignos e mais justos.






